Incúria ou “Cisne Negro”?
A queda de um dos tramos da “ponte Morandi” ontem ocorrida em Génova, tem sido analisada segundo diversas perspetivas e com objetivos distintos.
Pôr em causa a solução estrutural adotada não pode ser considerada uma análise séria se não for realizada por pessoas ou entidades com as competências, conhecimento técnico e experiência para o efeito, que são muito poucas. Nesta análise deve também ter-se em consideração as datas em que a ponte foi calculada e executada e, os procedimentos de cálculo e tecnologias de construção então disponíveis. Convém também não esquecer que a ponte começou a ser utilizada em 1967 e cumpriu a sua função durante 50 anos.
Para esta ponte está de certeza estabelecido um conjunto de procedimentos a adotar nas inspeções periódicas e destas decorreram trabalhos de manutenção e conservação. Tendo sido adotadas todas
as medidas que se consideraram tecnicamente adequadas no que se refere a inspeções, manutenção e exploração da ponte, parece não se poder acusar a concessionária ou o dono da infraestrutura (Estado Italiano) de incúria.
Estaremos na presença de um “Cisne Negro”, tal como o define Nassim Nicholas Taleb? “Cisne Negro” é um acontecimento que reúne três atributos. “Primeiro: é atípico. Segundo: reveste-se de um enorme impacto. Terceiro: apesar do seu carácter desgarrado, a natureza humana faz com que construamos explicações para a sua ocorrência depois do facto ter lugar, tornando-o compreensível e previsível.”
Independentemente das causas e dos responsáveis, este triste acontecimento que vitimou quatro dezenas de Pessoas, vai determinar uma discussão técnica importante no que se refere à durabilidade (/fadiga) dos materiais e à vida útil deste tipo de infraestruturas.